Histórias: Amor de Sangue

CAPÍTULO I - O DOCUMENTO

Espanha, 1778, Margens do Rio Ebro


-Corra, vamos!
-Não consigo. Estou fraco, preciso de sangue.
-Os padres estão nos alcançando, e os Lightings nos aguardam. Corra.
-Estou muito fraco, vá em frente. Eu dou um jeito aqui atrás.
-Não, eu não irei sem você.
-Vá, vá logo e cuide de meu irmão, ele nos aguarda junto aos Lights, apenas vá e entregue o documento.
-Não, não. Walter... ... ...



Berlim, Alemanha

- Com licença senhor. Acabam de chegar notícias da Espanha.
- Entre. Sente-se, diga-me como foi. Tivemos triunfo?
- Sim e não senhor. Perdemos um dos nossos, os padres o pegaram.
- Entendo. Quem dos nossos?
-Walter.
- Logo ele! Bem, agora já é tarde, sendo o que ele é irá para fogueira.
- Eu lhe avisei senhor, deveríamos ter mandado outros, não vampiros.
- Realmente, se tivéssemos mandado “Ele” talvez Walter não fosse queimado. Esqueça, e quanto aos documentos?
- Senhor...
- Pare de me chamar de senhor, isso me irrita.
-Sim, se... Estão com Mathias, ele está escondido ás margens do Rio Sena.
- Em segurança?
- Sim, ele está tendo dificuldades para chegar à fronteira, os governantes estão fechando o cerco. Mas meus informantes disseram que ele já pensou em um jeito.
- Ah, ele ainda nem chegou à fronteira, está cercado por soldados e você me diz que os documentos estão seguros. Maravilha. Estamos ferrados.
- Calma, ele chegará. É só uma questão de tempo.
- Maldição, eu não posso utilizar de meus contatos, pois eles irão me associar ao roubo na mesma hora. Sem contar que aqueles malditos franceses já sabem o que fizemos. Merda, só nos resta esperar. E a igreja?
- Está neutra, disse que os padres que o pegaram não constam nos registros.
- Quanto tempo para Mathias chegar? Tem alguma idéia?
- Acho que em dois dias ele chega.
- Eu espero que seja se não você sofrerá as conseqüências.
- Compreendo senhor. Com licença, vou atrás de atualizações.
- Sim, vá, vá logo.



Itália, 00h20

- Pegaram um deles?
- Sim. Parece que ele é vampiro.
- Maravilha. Vamos queimá-lo, faça os acreditar que ele é herege assim não precisamos colocar a população em pânico dizendo que uma criatura que antes habitava a profundeza dos sonhos realmente existe e muito menos termos que nos explicar quanto aos padres, afinal, um herege é apenas um herege.
- Imediatamente o farei.
- Ah, não deixe queimar a cabeça. Ela será um presente para um amigo meu.
- Pode deixar.



Berlim, Alemanha 03h47

- Senhor, notícias urgentes.
- Anuncie antes de entrar, e pare de me chamar de senhor!
- Desculpe. Strausser, trago boas novas da Espanha...
- Diga logo.
- Mathias conseguiu chegar à base em Marselha.
- Marselha, a base ainda está de pé?
- Sim sen..., Strausser. Eles conseguiram se esconder dos Franceses. Com trabalho, mas conseguiram.
- Diga-me, e o documento?
- Me adiantaram poucas coisas...
- Fale logo, pare de enrolar. Vamos...
- Sim. Disseram-me que a ordem ainda está de pé.
- A ordem?
Les templiers, os próprios.
- Mas fazem mais de trezentos anos...
- O Chinon era uma farsa, e a conspiração existe. Vinte e cinco deles conseguiram fugir na época e sua linhagem está reerguendo o nome.
- Então eles estão escondidos nas igrejas, por isso há tantas punições hereges.
- Sim e eles pretendem tomar o poder e nos derrubar, nós somos uma pedra no sapato e estão se espalhando nas igrejas para vingança.
- Informe o general, quero saber por que ele omitiu esse conteúdo de nós.
- Sim Strausser. E quanto ao irmão de Walter, contaremos sobre os padres?
- Não. Sua ira não será útil nas atuais condições. Manipularemos as informações até a hora certa.
- Também acho. Vou informar o general.



Sala do general Scherzgei

- Entre Strausser, como estão nossos homens?
- Não me venha com esse papo, porque você não me disse que se tratava de informações da ordem?
- Calma Strausser. Mandam-nos fazer as coisas e nós fazemos, eu sou seu superior seguindo ordens de meu superior, não é para isso que nós estamos aqui? Beba algo e relaxe, Klaus traga mais vinho, o senhor Strausser quer uma taça.
- Obrigado. General, eu sei que nesta maldita organização nós somos apenas descartáveis. Nós morremos, nós lutamos e eles lucram...
- Querido Strausser lembre-se que nós somos os que se divertem, eles não tem o prazer de ver o sangue de um traidor, o ver sangrar até morrer...
- Você é nojento Scherzgei.
- Caro Strausser, nunca se esqueça que está falando com um Cavaleiro Escocês, eu posso acabar com sua vida e sua carreira rapidinho.
- Vamos Scherzgei nós dois sabemos que você é apenas uma marionete. Cavaleiro Escocês, grande coisa, conseguiu o cargo com chantagens, mas não tem voz ativa.
- Quando for momento certo você verá a minha influência.
- Esperarei.
- Não se esqueça Strausser, você fez um juramento.
- Claro general.
- E o meu prazer maior é torturar traidores. Eu gosto muito de você Strausser, você lembra meu filho. Deve ser por isso que eu ainda não te matei. Saia da minha sala, você tem muito a fazer.
- Sim Senhor General Peter Sherzgei.
- Saia. Insolente.



Base Lighting. Marselha, Espanha. Madrugada fria, já é quase manhã o cheiro de sangue está no ar e o medo sopra ao redor da base, estão todos mortos.
Mathias acorda levantando vagarosamente de seu aconchegante dormitório cheio de baratas e ratos numa cripta sob a base.
Mathias.
Ao longe se escutam batidas semelhantes à de cascos de cavalos. Desesperado Mathias sobe a escadaria e chegando a base não acredita na cena que vê; cento e trinta e dois Lightings mortos, todos brutalmente assassinados.
O documento fora roubado e deixaram a cabeça de Walter em seu lugar. Sem saber o que fazer Mathias pegou um dos poucos cavalos que sobraram e seguiu rumo à fronteira.
Sete dias de viagem, muito sangue nas mãos e um extremo cansaço. Esses foram os sinais com que Mathias chegou a Berlim.
- Sr Strausser, Mathias está aqui.
- Entre Mathias.
- Com licença senhor.
- Não, não. Pode me chamar apenas de Strausser.
- Strausser, nós fomos atacados e roubados, eles eram da ordem. Sim, não estou louco eu vi a cruz, era a ordem, estava longe, mas era a ordem, eles foram silenciosos, era a ordem, a ordem está de pé... Como? Está de pé...
- Se acalme Mathias. Desse jeito eu não entendo nada. Como aconteceu.
- Está bem, aconteceu o seguinte, estávamos em cento e trinta e três homens. Soldados, ferreiros, políticos, médicos. Já era madrugada quando nós fomos dormir, eu dormi numa cripta no subterrâneo da base. Cinqüenta homens fizeram o turno da noite e ao julgar pela temperatura dos corpos foram atacados pela manhã. Todos foram dizimados. O mais estranho é que eles roubaram o documento de dentro da cripta em que eu estava, desconfio que o que me roubou assim como eu, não era um humano. Ele me deixou vivo, provavelmente aguarda um confronto corpo a corpo no futuro. Logo que me levantei enxerguei ao longe um homem a cavalo e no manto dele estava a cruz, a cruz da ordem, mas não tinha elmo e o cavalo estava muito nervoso.
- Mathias, você leu o documento?
- Não, mas Pietro e Marco disseram que tinham informado vocês, por isso eu nem olhei...
- Sim eles informaram, e sabe o que tinha no documento? Dentre outras coisas que desconhecemos continha a informação que Chinon é uma farsa, a conspiração existe e está se reerguendo. Eles querem ser a influência suprema. Você me entende Mathias?
- Sim e não. Sou apenas um vampiro acolhido e grato por lightings, não me meto na sua política.
- Nós somos os escolhidos, nós somos aqueles que temos a sabedoria. “Nós somos aqueles que serão a ‘‘Novus Ordo Seclorum”.
- Novus Ordo Secrolum, a nova ordem mundial, vocês, nós?
- Sim Mathias, nós tomaremos o controle e cavaleiro nenhum irá impedir isso.
- Bom Strausser até onde eu sei, nós estamos perdendo muitos dos nossos, enquanto eles se multiplicam. O tempo que nós levamos para erguer essa sociedade nem se compara ao deles é lógico, mas as circunstâncias estão a favor deles.
- Sim, mas para isso é que temos você, “Ele”, e também tínhamos o Walter.
- “Ele” já sabe da morte do irmão?
- Não. Sua ira será libertada quando for necessária e que pelo visto, está cada vez mais próxima.
- Não podemos esquecer que foi algo e não alguém que me roubou.
- Isso é paranóia sua. Eles só têm medo, por isso estão destruindo as bases porque aqui eles sabem que estão vocês, por isso não ousam atacar.
- Não é o que parece. É como se fosse um castelo, estão destruindo a base porque com a base fragilizada, a torre cai.
- Não é o que parece, mas é o que é. Mathias você está dispensado por hoje, vá se limpar e descanse um pouco... Ah, temos algumas cabras quentinhas para você.
- Obrigado senhor, mas sangue de cabra de novo?
- É. Você queria o quê, de ser humano?
- Desculpe senhor, com licença.
- Vamos ver se trazem de outro tipo da próxima. Agora pode ir.

by Todengel








CAPÍTULO II - A FOGUEIRA





Paris. Dez dias antes. Terça – feira.

Corredores vazios, uma brisa angustiante domina o lugar. Uma igreja escondida ao norte de Paris. Ao horizonte vê- se um manto marrom a se mover carregando uma cartilha em suas mãos. Uma imagem séria e cheia de medo consigo. Um nobre da ordem.
À sua espera está um homem alto de cabelos grisalhos e bigodes, bebendo uma taça de vinho e observando o semblante nervoso do visitante.
- Aqui está. O documento. - disse o visitante.
- Muito obrigado. Daremos um jeito agora, esconderemos em Zaragoza. Lá está Alfredo, ele saberá guardar isto.
- Espero que sim. Sr. Vincent tome muito cuidado, eles estão atrás de nós. Esse documento ainda não pode ser revelado a ninguém.
- Não se preocupe Arnaud eu estou bem seguro com meus guardas.
- Disseram-me que apenas a elite da hierarquia Lighting sabe de nossa existência, mas temo ser apenas um blefe para uma futura emboscada.
- Eles não são problema por enquanto, vamos me diga, e quanto ao Papa?
- Ele não coopera de jeito nenhum e ameaça revelar as falsas igrejas e a ressurreição da ordem. O que faremos?
- Merda!
- Você sabe melhor do que eu Vincent que é a igreja quem manda. O Papa só não nos derrubou porque estamos eliminando alguns Lightings e isso é vantagem para ele, mas ele já não vê mais os Lightings como uma ameaça. Não consigo achar saída.
- Então, pelo que me parece, os peões terão de derrubar o rei. Xeque mate!
- Matá – lo?
- Se preciso... ... – finaliza Vincent lustrando sua bela espada templária, herdada de seus antepassados.



Sexta – feira, Zaragoza.
- Alfredo, Vincent está aqui. – informa um dos subordinados.
- Meu caro Vincent a que lhe devo a honra.
- Ora Alfredo, não é hora de piadas.
- Esse é você, sempre de mau humor. Vincent.
- Aqui está o documento. O plano segue sem alterações. – responde Vincent logo após entregar a cartilha.
- Sim capitão. – ironiza Alfredo batendo continência.
- É melhor eu ir andando não quero que alguém nos veja juntos, isso pode ser um risco para a ordem. Já corremos riscos demais com essas igrejas.
- Concordo Vincent. Bem, foi bom revê – lo. E fique tranqüilo, o documento está em boas mãos.
- Eu sei. – diz Vincent com um ar desconfiado.
- Realmente está em boas mãos. Pobre ordem, tão inocente. – pensa Alfredo com um sorriso malicioso no rosto.
Barcelona, domingo.
- Walter, Alfredo deu notícias.
- E então o que ele disse Mathias?
- Ele está com o documento, o caminho está livre para pegarmos.
- Vamos logo. Amanhã cedo atacaremos.

Zaragoza, prisão subterrânea da fortaleza.

Ratos, ossos, calafrios, náuseas. Esse era o clima da prisão subterrânea da fortaleza de rocha. Na última cela à esquerda, no fundo do corredor estava Alfredo. Com fome e medo, esperando seu julgamento de traidor. No canto oposto Alfredo enxergava um vulto que não conseguia distinguir, mas a voz não mentia. Era Vincent.
- Desgraçado. Onde escondeu a cartilha seu verme pútrido?
- Nunca saberá Vincent ela agora é dos Lightings. Eles estão chegando, eles arrancarão sua cabeça, seu coração, e comerão sua carne. - rebate Alfredo aos risos.
- Eu confiei em você seu maldito.
- Essa é a fraqueza de vocês, a ignorância.
- Guardas, façam no sofrer até implorar por piedade, depois queimem o corpo e arranquem a cabeça e a genitália. – gritou furiosamente Vincent.
... Ratos, ossos, calafrios, náusea, gritos, sangue e morte, esse era o clima da prisão.
...
Walter corria desesperadamente pelos campos, ele era um dos mais habilidosos.
- O caminho é seguro. – exclamava para seus acompanhantes.
O rio estava calmo e a lua se tornava parte da tropa. Walter estava claramente perturbado, sentia que algo estava estranho, mas não quis transparecer seu medo.
Avançaram silenciosamente pelas árvores, dez homens, dois vampiros. Os dez mais habilidosos e confiáveis Lightings de toda Espanha, selecionados rigorosamente por Strausser.
Ao cruzar o rio eles contemplaram uma belíssima estrutura. Era a fortaleza. A fortaleza de rocha, com suas imensas torres e infinitos corredores.
- Como entraremos lá? – perguntou Walter a Mathias.
- Pela torre norte, Alfredo disse que só tem um guarda lá e que sempre dorme a serviço. – respondeu Mathias.
- Vamos logo. – exclamou Walter enchendo os corações dos soldados de coragem e glória.
Um zunido seguido de um grito quebrou o silêncio da lua.
- Aaaaaaargh!
- Pronto Walter o guarda já está no chão. – disse Eduard logo após enviar uma flecha com endereço certo no meio do coração do guarda.
- Mathias, vá e pegue o documento, eu dou um jeito nos guardas. – sussurrou Walter.
- Eles são humanos...
- Fique quieto e vá. Leve nossos homens também.
- Certo, mas tome cuidado, eles são muitos.
- Pode deixar. Cuide - se Mathias...
Fortaleza de pedra, Torre de segurança. Sala de Vincent.
- Já chegaram.
- Muito obrigado Glacius.
- Estão se dirigindo para a torre norte.
- Como esperávamos, façam com que saibam de Alfredo.
- Isso será um prazer.
- Reforce a segurança, não quero Lightings aqui...
- Vincent, tem um vampiro com eles.
- Um vampiro?
- Walter...
- Walter?
-... Sim, o senhor o conhece?
- Não! É que...
- O quê?
- Nada, apenas traga o vivo para eu poder olhar no fundo dos olhos daquele maldito lighting.
- Soltamos Clived?
- Não, tenho planos melhores para ele.
...

by Todengel

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